sexta-feira, 21 de setembro de 2012




Acordai, Conselho de Estado!

No sábado passado, 15 de Setembro, fizemos qualquer coisa de extraordinário. A força daqueles e daquelas que saíram à rua por todo o país mostrou que em conjunto podemos mudar aquilo que está mal. Podemos fazer algo de extraordinário. Hoje estamos aqui junto ao Palácio presidencial porque sentimos que existe uma manifesta vontade popular de mudança de governação, e queremos que o Conselho de Estado aqui reunido sinta que o mal-estar de toda uma população não se compadece com decisões messiânicas ou gratuitas, avulsas ou remendadas. A assimetria dos sacrifícios impostos aos Portugueses e a todos os que vivem e trabalham neste país, a manifesta explosão da pobreza e do empobrecimento do país, a desigualdade na distribuição da riqueza têm sido agravadas com a implementação de políticas de austeridade que se tornam verdadeiros saques às nossas vidas. E por isso é preciso pensar num novo rumo.

No sábado clamámos, dignamente e bem alto, que queríamos as nossas vidas de volta. Hoje, sublinhamos que estamos definitivamente fartos e fartas deste modelo de governação submetido aos interesses financeiros e às especulações de mercado. E não nos contentamos com mudanças cosméticas de cadeiras, com governos mais suavemente austeritários ou com recuos em medidas pontuais. Quando não existe respeito pelo povo, quando apenas existe imposição e mentira, quando apenas existem medidas executadas à revelia da vontade do povo e instituições não eleitas que tudo decidem, quando temos uma troika que entra no nosso país “emprestando” 78 mil milhões mas cobrando 36 mil milhões em juros, quando aqueles que nos governam se tornam, como diria Padre António Vieira, em gente que não vem cá buscar o nosso bem, vem cá buscar os nossos bens, então, essa é a altura de dizer: Não! A escala do termómetro da nossa paciência e da tolerância à mentira política, à injustiça social e à destruição da economia foi largamente ultrapassada. Este governo, estes governantes, não têm mais qualquer base de apoio popular e não podemos continuar a ser carne para canhão dos seus manuais técnicos e dos seus modelos teóricos que insistem em que temos de ficar pobres, que temos de ser baratos, que temos de ser entregues à lei da selva.. Concretizar o nosso protesto de sábado e exigir em uníssono que este governo da troika – este governo mais troikista que a troika – se demita é uma óbvia conclusão. Por isso, aqui hoje reiteramos: não queremos mais troika, nem modelos de governação troikistas! A troika não resgata. A troika afunda-nos e esmaga-nos. A troika e as suas medidas de austeridade não funcionam. Não funcionam aqui, não funcionam em Espanha, não funcionam na Grécia, não funcionam na Irlanda, não funcionam em Itália. Não funcionam no Chipre. Não funcionam na Letónia. Já foram testadas e nunca funcionaram. As manifestações foram o cartão vermelho a todas as políticas de austeridade deste governo, mas também de qualquer governo que pretenda, mudando de nomes e de modos de fazer, aplicar medidas como estas. E que a rejeição da austeridade europeia seja a exigência de uma outra Europa.

Não somos mais Portugueses suaves, somos cidadãos e cidadãs conscientes, lúcidos, comprometidos com a mudança e que querem, exigem, as suas vidas, dispondo-se a fazer coisas extraordinárias para que isso possa acontecer de um modo verdadeiramente democrático.
Acordai, portanto, Conselho de Estado!

Que se Lixe a Troika! Que se Lixem os Troikistas! Queremos as Nossas Vidas! E vamos tê-las de volta porque despertámos em conjunto para a participação cidadã. Hoje é mais um dia do resto da nossa luta.