domingo, 20 de outubro de 2013

Boa noite (depoimento de Rui Dinis)

Boa noite. 

25 minutos de Albuquerque. Depois outros tantos à espera duma resposta. 15 segundos: CGTP cancela manifestação e apela à concentração em Alcântara, o governo proíbiu, está proibido. É assim. Fatalidades de se jogar para o empate. Afinal estamos habituados. Não há becos sem saída, eu sei, e bem vistas as coisas estamos a falar de uma ponte, é só uma ponte, que, a julgar pelo nome, quisemos que se deixasse de chamar Salazar. Becos, pontes? Mas alguém me pode tirar de dentro desta merda de metáfora?
Albuquerque fala, tosse, compõe o cabelo, espirra, pensa que pode e fode, caga, come e mesmo assim nem com todas figuras de estilo em voga, se torna ser humano para que lhe tire o chapéu, bravo minha cara, a puta que a pariu. 
Faltam-lhe os argumentos? Faça uma manchete para os jornais. Faltam-lhe as ideias? Vá para comentador profissional. Falta-lhe a pica? Aplique metadona. Não se pode manifestar? Inscreva-se na meia maratona. Não pode invadir? Não pode invadir? Não pode invadir? Vá, repita muitas vezes, vezes bastantes até que não pode invadir? se torne não posso invadir! 
Erga um palco, e se metáforas caírem do céu, que sejam as pedras que de lá possam partir.
Não esqueço 15 de Outubro, meu amor. O grito, a preplexidade de sermos mais do que ousámos prever: o grito, o grito, o grito. Dia 26 lá voltaremos com a certeza de que tudo mudou, o sentido do teu grito, não.
Boa noite.
Rui Dinis